Textos novo site
Olá, estou escrevendo no site Parada Lésbica e quero compartilhar a todos por aqui
Até quando
Meu texto hoje não vai falar somente de nós lésbicas, mas
pretendo incluir nele todas as mulheres como tema e a questão do porque ainda
somos tão discriminadas, tratadas como objeto e humilhadas de todas as formas
por essa sociedade onde trabalhamos, cuidamos e somos provedoras.
As mulheres hoje representam no Brasil uma força de trabalho
inigualável, quase sempre sendo as provedoras do sustento do lar e mesmo assim
ganham bem menos que os homens e na maioria das vezes não são vistas em
posições de comando em empresas, hospitais e escolas simplesmente porque não
são consideradas aptas.
Quem determina quem é apto ou não para um cargo? E o que
determina isso?
Gostaríamos que fosse a competência e a capacidade para
enfrentar desafios e metas que a meu ver é igual entre homens e mulheres, ou
até maior nas mulheres por conta dos anos e anos de repressão e exclusão que
sofremos, tendo então que nos sobressairmos bem mais, em tudo, mas percebemos
prontamente que não é assim que funciona.
O machismo é algo enraizado em nossa sociedade e é com muito
pesar que vejo que caminhamos a passos de tartaruga para a igualdade.
Nesta copa da Rússia vimos nas redes sociais e na TV um
grupo de brasileiros humilhando e citando frases grotescas para uma torcedora
russa mostrando e reafirmando o quanto somos mal educados, machistas e
ignorantes. No caso dos homens em questão eram bem instruídos e ricos,
mostrando que no quesito “abuso de mulheres” não importa o seu grau de estudo
ou o dinheiro que tem na conta bancaria.
É ruim pensarmos sempre em nosso país como atrasado e
ignorante, pois fazemos parte dele e gostaríamos de vermos mudanças reais
acontecendo, mas infelizmente não é assim. Eu insisto em afirmar e me colocar
pessoalmente contra toda a mídia que esta instaurada no país, principalmente a
televisão, pois vejo como a principal modeladora de comportamento e responsável
pela continuidade de modelos indignos e torturantes impostos as mulheres.
A mulher é representada por seu papel de malvada, de
controladora, de manipuladora, de infiel, de piranha, de tudo aquilo que tem
tom pejorativo e ruim na sociedade e quando é mostrada como legal, divertida e
vencedora é porque ela fez tudo isso para conseguir o troféu que é um homem.
Caramba, será que nós mulheres não nos cansamos disso? Não
conseguimos ver que basta um movimento nosso contrariando essas posições para
que a coisa comece a mudar?
Sei que é muito tempo de opressão e que lutamos contra a nossa
exclusão da sociedade há muito tempo, mas temos que nos apropriarmos de nosso
poder enquanto mulheres e é já.
Como psicóloga estudei pensadores como Freud e seu conteúdo altamente
machista nos colocando na posição das que tem “inveja do pênis”. Eu sempre me
posicionei enquanto pensadora assim: inveja do pênis? Não seria o contrário? Os
homens tem inveja do poder da maternidade e de nossa particularidade enquanto
fêmeas de gerarmos a vida, por isso somos oprimidas pela força bruta desde a
antiguidade.
A força bruta ainda é utilizada, mas hoje temos leis que
estão, pelo menos um pouco, a nosso favor, então chegou a hora de nos unirmos,
todas e nos utilizarmos destas leis de uma vez por todas.
Você que é mãe e tem um filho homem, por favor, crie-o para
que respeite as mulheres e não para que as veja como um objeto. Eu digo tudo
isso por que me cansei de ver, particularmente no consultório, mães de meninos
que dizem e fazem tanta bobagem reforçando o machismo que vejo que somente nós
podemos reverter essa situação. Para os homens em geral, é cômodo ter alguém
que os supre de todas as formas possíveis e ainda não reclamam por igualdade.
Resumindo, a sociedade mandatária é formada por homens que
estão no comando, por mulheres que aceitam e reforçam posições de desigualdade
se omitindo de lutar por direitos e muitas vezes reforçando esse mundo
masculino se colocando como seres inferiores ou aceitando essa posição sem
questionamento, essas mesmas mulheres casam, geram filhos e filhas e continuam
a ensinar que existe diferenças no tratamento entre homens e mulheres, e que os
homens devem ser respeitados em suas vontades e as mulheres não.
Se pegarmos o movimento “#me too” que está rolando pelo
mundo, mais fortemente nos EUA, vemos que existe muitas mulheres contra o mesmo;
mulheres tidas até mesmo como feministas como é o caso da escritora francesa
Catherine Millet, e aí eu me pergunto, o que faz uma mulher, inteligente,
intelectualizada ir contra outras mulheres para ficar do lado de assediadores,
estupradores e abusadores?
Só consigo pensar que foi anos de opressão, repressão e
humilhação. Se unir a outras mulheres numa causa completamente feminina a excluiria
do lugar comum que ela se colocou e que o mundo quer que todas nós nos
coloquemos, correr atrás de um macho. Este é só um exemplo, mas vemos tantos
outros por aí. E não vamos deixar nossas amigas lésbicas, quantas vezes não
passei na porta de uma balada ou bar LGBT e não vi e ouvi assédios grotescos e
com cunho machista. No mínimo estranho e constrangedor.
Bom, movimentos a parte, nossa maior luta é se amar enquanto
mulheres, amarmos nossa força e nossas particularidades, se não for assim nunca
teremos igualdade de direitos.
Seria bom se vivêssemos num futuro bem próximo todas nós
unidas em prol de nosso próprio bem estar, bem viver e segurança, para que o
mundo seja melhor, para as que se relacionam sexualmente com homens e as que
não, então, por favor mulheres em geral, prestem atenção em suas próprias
condutas machistas, parem de replicar comportamentos de exclusão.
O machismo machuca, o machismo dói e o machismo mata.
Este texto é ínfimo perto do que temos a falar, discutir e
conversar a respeito deste tema, de novo fica a minha dica: você que sofre com
atos machistas em casa ou no trabalho procure ajuda, existem grupos anônimos ou
não que podem te ajudar nesta luta.
Precisando é só chamar. Beijos
Claudiaiza1973@gmail.com
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